Por Keli GoisO número
de roubo de cargas no Brasil cresce a cada dia. Caminhoneiros seguem
pelas estradas com medo e apreensivos. Entre os produtos mais procurados
pelas quadrilhas especializadas em roubo de cargas estacam-se produtos
de alto valor agregado como: eletroeletrônicos, componentes
farmacêuticos, cigarros, alimentos, produtos metalúrgicos, autopeças e
combustíveis. O motorista que faz esse tipo de transporte deve estar
atento e tomar os devidos cuidados, já que sabe o perigo que o
transporte da mercadoria representa para ele e para a transportadora.
Segundo
o Coronel Paulo Roberto de Souza, especialista em Segurança no setor de
transportes e logística do Sindicato das Empresas de Transportes
de
Cargas de São Paulo e Região (SETCESP), os motoristas que transportam
cargas caracterizadas como as mais roubadas recebem da transportadora
algumas instruções e recomendações de segurança, que segundo ele, não
devem ser desrespeitadas. A principal recomendação que os
transportadores passam aos motoristas é que eles sigam as regras de
gerenciamento de riscos como: seguir o percurso estabelecido, respeitar
os pontos de parada, não dar carona para desconhecidos, não parar em
lugares com muito movimento e ficar atento se está sendo seguido.
As transportadoras também alertam o motorista em como ele deve se
comportar se perceber ou desconfiar que esteja sendo seguido, pois
existem alguns procedimentos que devem ser tomados nesses casos. O ideal
é que o motorista pare no posto mais próximo da Polícia Rodoviária
Federal e comunique que está sendo seguido, assim como avisar a empresa
para qual ele está transportando a mercadoria e o mais importante, não
seguir viagem enquanto existir algum risco.
De
acordo com o Coronel Paulo Roberto de Souza, os motoristas que
transportam esse tipo de carga são monitorados pela empresa, e tem um
auxílio em situações que representem certo perigo, mas se ele não
respeitar as normas de segurança, corre riscos e perde o apoio da
empresa transportadora, já que ela perde o controle sobre o veículo e o
motorista.
Uma pesquisa realizada pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística - NTC&LOGÍSTICA aponta
que a maior incidência de roubo de cargas acontece em rodovias próximas
aos grandes centros urbanos, como São Paulo, onde a movimentação de
veículos com mercadoria é maior. De acordo com a Secretaria de Segurança
Pública do Estado de São Paulo, em 2011 o número de ocorrências
registradas por roubo de carga em todo o estado foi de 6.958, que
demonstra o motivo de tanta preocupação dos transportadores e
motoristas.
Em
relação ao local das ocorrências, 70% se passam em áreas urbanas e 30%
em rodovias. Nas áreas urbanas, a maior parte dos roubos, cerca de 70%
ocorre no turno da manhã, enquanto nas rodovias a incidência é maior no
período da noite, sendo 60%.
COMBATE
Os crimes de roubo de cargas possuem características diferenciadas,
pois nessa área atuam diversos órgãos de polícia, que têm que trabalhar
em conjunto. O trabalho da Polícia Rodoviária se concentra nas rodovias,
já os outros órgãos de polícia atuam em todo o território. Com isso, os
boletins são registrados pela polícia civil e através deles, a polícia
rodoviária recebe os dados e entra em ação.
Segundo o Inspetor Mardilher Ramalho Ribeiro, da Polícia Rodoviária
Federal, existe um problema nos registros dos boletins de ocorrência,
pois muitas vítimas de roubo de cargas são abordadas na própria saída da
transportadora e não nas rodovias, como são registrados a maioria dos
boletins. Diante disso, a Polícia trabalha para melhorar o atendimento
no registro de ocorrências de roubos, onde deve existir um pessoal
especializado para entrevistar a vítima do roubo. Com uma investigação
mais aprimorada e a apresentação de estatísticas, a polícia rodoviária
consegue planejar estratégias e táticas para um melhor desempenho com
informações retiradas dos próprios registros de boletins de ocorrência, o
que facilita o trabalho da polícia na identificação e no combate a esse
tipo de crime. “Só podemos melhorar a qualidade de serviço mediante um trabalho científico”. Afirma o Inspetor.
Ainda
de acordo com o Inspetor, a Polícia Rodoviária trabalha para melhorar a
qualidade no serviço de investigação, a equipe está sendo treinada para
melhor receber e entrevistar vítimas de roubo de cargas, para que haja
melhorias no registro dos boletins de ocorrência, com informações mais
completas e precisas, facilitando e aprimorando o trabalho.
Para
o inspetor, os serviços devem ser integrados com inteligência, o
trabalho realizado pela polícia busca, por meio do boletim de ocorrência
eletrônico, retirar o máximo de dados e informações e a partir daí,
montar intervenções específicas. Obter informações como o local e
período em que mais acontecem esses tipos de incidentes, e assim colocar
policiamento para atuar nos locais e horários indicados nos registros
feitos pelos próprios caminhoneiros.
“A
sociedade tem que estar ciente de que os crimes de carga notoriamente
acontecem no momento de desenvolvimento da economia de um país, é
evidente que há um número de infratores sobre o setor de cargas, pois a
economia do país anda nas rodovias, nossa economia está concentrada em
caminhões”, afirma o Inspetor.
COMO SE PROTEGER
O comportamento e o cuidado do motorista são fatores que podem
ocasionar uma oportunidade de roubo, o motorista deve sempre tomar
alguns cuidados como: não estacionar em locais sem policiamento ou em
locais escuros, em caso de paradas para descanso e refeições ele deve
sempre parar em postos de gasolina e em bases operacionais, não dar
carona para estranhos, não falar sobre o tipo de carga que está
transportando, e principalmente o destino da mercadoria. Nessas horas o
comportamento do motorista pode influenciar positiva ou negativamente na
visão de quadrilhas especializadas em roubo de cargas, que procuram
sempre a melhor maneira de agir, elaborando as melhores estratégias de
cerco ao motorista.
ABORDAGENS MAIS COMUNS
É importante que o motorista tenha conhecimento sobre como as
quadrilhas costumam agir. Existem quatro formas de abordagens mais
comuns nas estradas: uma das ações é quando o caminhoneiro é
interceptado nas rodovias com o veículo em movimento, os bandidos
disparam tiros para assustar e render o motorista, outra é quando o
motorista dá carona a uma pessoa aparentemente inofensiva, mas que age
em parceria com a quadrilha, o roubo acontece quando o motorista para o
veículo no local indicado pela pessoa e é rendido pelo restante da
quadrilha, muito comum também é abordar o motorista durante a parada
para descanso e em outros casos, quando o próprio motorista está
envolvido com os criminosos e simula um assalto, que na realidade ele
facilitou.
O
motorista deve estar atento e ciente do perigo que ele corre nas
estradas, é muito importante que ele saiba como agir, para não colocar
em risco sua vida. Deve manter-se calmo e não reagir de forma alguma,
pois o objetivo dos assaltantes é roubar a carga, e não atentar contra a
vida do motorista, é importante que ele preste atenção nos assaltantes
para que a polícia consiga fazer um retrato falado, o que pode ajudar a
solucionar o crime.
LEGISLAÇÃO
De acordo com o Código Penal brasileiro, a receptação de produtos
roubados é considerada um crime leve, com pena máxima de quatro anos.
Por se enquadrar nos crimes com menor potencial ofensivo, de acordo com a
lei nº 12.403/2011 o acusado não terá a prisão preventiva, e poderá
sair sob fiança determinada pelo delegado de polícia.
O
inspetor acredita que para minimizar os casos de roubo de cargas é
necessário mais participação da sociedade e penas mais severas para as
práticas desses crimes.
“Enquanto a legislação brasileira não penalizar o receptado, ainda teremos muito roubo de carga”, Afirma o Inspetor.