terça-feira, 20 de abril de 2010

Entrevista Com "Titã" Oliver Kahn o Grande Goleiro Alemão


Oliver Kahn dispensa grandes apresentações. O inesquecível goleiro alemão é muito conhecido e uma referência na sua posição em todo o mundo. O "Titã", como Kahn é conhecido, conquistou praticamente tudo na sua carreira. Foi vice-campeão mundial, campeão europeu, campeão alemão e da Copa da Alemanha, da Liga dos Campeões da UEFA, do Mundial Interclubes... a lista é interminável.

Além disso, Kahn recebeu diversas honrarias pelo seu desempenho pessoal. Foi eleito o Melhor Jogador e Melhor Goleiro da Copa do Mundo da FIFA (2002), Melhor Goleiro do Mundo (1999, 2001, 2002) e Melhor Goleiro da Europa (1999, 2000, 2001, 2002). Prêmios como esses não deixam dúvidas sobre a qualidade do arqueiro.

Em maio de 2008, após 21 anos de carreira, Kahn finalmente pendurou as luvas. Pela seleção germânica, o "Titã" já havia se despedido dois anos antes na disputa do bronze da Copa do Mundo da FIFA celebrada no seu próprio país. No total, ele disputou 86 partidas pela Alemanha, 46 delas como capitão.

O FIFA.com fez uma entrevista exclusiva com Oliver Kahn para saber mais sobre a sua nova profissão de comentarista de televisão, a Copa do Mundo da FIFA que já está bem próxima e os problemas atuais da seleção comandada por Joachim Löw.

O seu antigo concorrente no gol da Alemanha, Jens Lehmann, anunciou recentemente que vai se aposentar ao final desta temporada. Como você recebeu a notícia?
Naturalmente, recebi a notícia sem muita surpresa. É uma consequência lógica. Esportistas de alto nível sempre se perguntam até quando conseguirão manter a forma. A melhor hora de parar é quando ainda há pessoas que dizem que o seu rendimento continua excelente.

Você aceitaria participar de uma partida de despedida para Jens Lehmann?
Claro que aceitaria. Por que não? Sempre que falam sobre nós, parece que somos alguma espécie de inimigos ou algo do gênero. Éramos concorrentes no esporte, mas isso é tudo.

Outro tema sendo muito discutido na mídia é a possível volta de Kevin Kuranyi à seleção alemã. Qual a sua opinião sobre isso e quais as chances do atacante?
O Löw tem vários atacantes para escolher, como Miroslav Klose, Lukas Podolski, Mario Gomez, Stefan Kiessling e agora também o Kuranyi. Se o técnico tivesse a filosofia de convocar sempre os que estão jogando melhor no momento, teríamos uma seleção diferente praticamente todo mês. O Löw precisa refletir bastante, pois um desses atacantes não irá para a Copa do Mundo. Não é fácil para o treinador da Nationalelf levar um jogador que não é convocado há vários meses.

A dúvida no gol da Alemanha foi solucionada há pouco tempo. René Adler é o novo número um. Você diria que o anúncio do goleiro titular foi feito no momento certo? Há quatro anos, a decisão entre você e Jens Lehmann para ficar debaixo das traves do selecionado germânico só foi anunciada pouco antes do início do torneio…
Espero voltar a ver em breve um goleiro alemão que consiga se firmar e então não precisaremos esperar por anúncio nenhum, pois finalmente teremos constância nessa posição, assim como ocorre com Van der Sar, o Casillas ou Cech, que são titulares absolutos dos seus países.

Eu já teria tomado essa decisão bem antes para que todos pudessem ficar sossegados a esse respeito. Existe uma mentalidade de que questões importantes devem ser decididas gradualmente. Não penso dessa forma. Um goleiro precisa de tempo para se cristalizar e se desenvolver antes que ele possa iniciar uma nova era. Obviamente, o Adler não poderá cometer mais nenhum erro, pois isso geraria mais discussões e, nesse caso, a discussão envolveria jogadores de altíssimo nível. Se ele continuar em boa fase, não haverá mais questionamentos.

Qual é a importância para o goleiro de se entrosar com a defesa com antecedência?
É muito importante. Precisamos saber como o zagueiro reagiria em determinadas situações. Leva um pouco de tempo até que possamos nos entender dentro de campo. O Adler já disputou várias partidas, algumas delas importantes, como contra a Rússia. Acho que a Alemanha ainda não está completamente pronta, mas temos uma base sólida.

Em menos de dois meses se iniciará a Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010. Quais são as suas expectativas para o torneio?
Uma Copa do Mundo é o maior momento na carreira de qualquer futebolista. A cada quatro anos, as melhores seleções e os melhores jogadores se encontram. É uma grande festa do futebol. O Mundial é sempre um grande acontecimento. Todos se interessam muito pelo torneio, mesmo quem já não está mais atuando, como é o meu caso. É fascinante ver as dramáticas partidas da Copa do Mundo. Sempre reina uma atmosfera diferenciada em cada um dos países.

Você não sente aquela vontade de ainda estar em campo?
Na verdade, fico feliz por não estar mais jogando. Já passei por tudo isso e já tive todas essas experiências. Joguei cinco ou seis grandes torneios. Este capítulo da minha vida já ficou para trás.

Quem são os seus favoritos ao título na África do Sul 2010? Quais são as chances da Alemanha?
No fim das contas, os favoritos são sempre os mesmos: Espanha, Brasil, Itália, França e também a Alemanha. No entanto, a boa fase das seleções antes da Copa do Mundo não diz muita coisa. Todo Mundial tem uma dinâmica própria. Quem se acostuma primeiro com o clima e outros aspectos tem mais chances. Portanto, é muito difícil fazer um prognóstico.

A Nationalelf está no nível do Brasil, Argentina ou Itália, ou ainda falta alguma coisa?
Estamos falando sobre a seleção que foi vice-campeã europeia. Acredito que a Alemanha esteja no mesmo nível de todas as outras seleções de ponta. Os alemães poderiam vencer os brasileiros ou os espanhóis a qualquer momento — e o contrário também é possível. Em partidas desse nível tudo é possível. A derrota por 1 a 0 para a Argentina no último amistoso não significa nada. Lembro de 2002, quando só nos classificamos para a Copa do Mundo na repescagem e também não jogamos bem durante a nossa preparação. Mesmo assim, acabamos chegando à final.

Muitos especialistas estão dizendo que as tarefas do goleiro mudaram nos últimos anos. Agora, não seria mais suficiente apenas defender as bolas. O goleiro atual precisaria ser mais participativo. Antigamente era mais fácil ser goleiro?
Sou obrigado a discordar completamente. No meu tempo já era muito importante saber compreender o jogo e colocar as coisas em ordem. Já era preciso perceber antes que um cruzamento seria feito, participar da partida e, conforme o caso, jogar mais rapidamente ou segurar o jogo. A única mudança nos últimos 100 anos foi a criação da regra que não permite que o goleiro pegue um recuo de bola com as mãos. E todos se acostumaram rápido com isso. Eu diria que as exigências de hoje são as mesmas de sempre.

Quem é o melhor goleiro da atualidade na sua opinião?
Para mim, o melhor goleiro hoje é Gianluigi Buffon. Ele é o mais experiente, já conquistou uma Copa do Mundo e joga em um grande clube. Além disso, também tem o físico certo e reúne em si todas as características de um arqueiro clássico.

Aparentemente, a seleção alemã continuará forte nos próximos anos graças ao surgimento de jogadores como Mesut Özil, Thomas Müller, Marko Marin, Holger Badstuber e Toni Kroos. Você concorda com isso? Se o título não vier em 2010, ele poderá vir no Brasil 2014?
Não apenas na Alemanha, mas por toda a parte, os jovens jogadores de hoje têm um físico melhor e possuem diferentes habilidades. Os jogadores atuais precisam saber de tudo um pouco, pois a filosofia do futebol mudou. Há cada vez menos especialistas típicos de uma posição. Por exemplo, um zagueiro precisa mais do que saber defender. É necessário que ele tenha capacidades como fazer lançamentos ou cobrar faltas.

Você está atuando como comentarista de televisão já há um bom tempo e estará presente inclusive na Copa do Mundo da FIFA. Como será analisar as partidas em vez de jogar?
No início, é evidente que passei por uma fase de adaptação, porque eu ainda pensava como um jogador. No entanto, conforme fui me distanciando, me acostumei e se tornou mais fácil, porque é preciso fazer críticas objetivas e permanecer sempre neutro. Para isso, é imprescindível que haja um distanciamento. Hoje, não tenho problemas para comentar as partidas.

Você conquistou diversos títulos ao longo da sua carreira, desde a Liga dos Campeões até a Bola de Ouro da Copa do Mundo da FIFA. Qual prêmio ou título foi o mais importante para você?
É sempre uma confirmação incrível quando você é eleito o melhor goleiro do mundo. Ser reconhecido como o melhor jogador da Copa do Mundo em 2002 também. Nenhum outro goleiro alcançou esse feito. Tenho muito orgulho disso.

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